Talita Gantus
A cidade sussurra
Atualizado: 22 de jul. de 2021
Na cidade
nos pedestres que andam de passagem
nos deuses
nos transeuntes.
Onde está o nosso olhar?
Capitalismo
neurose
a ansiedade que agoniza
diante da mediocridade.
Eles querem acabar com tudo
mas poesia não tem fim
por mais que os transeuntes tenham.
Mata-se a cidade
mas não se calam as empenhas
dos muros grafitados
que gritam a realidade.
As cidades existem
pelo lado de fora
e pelo lado de dentro.
As fumaças negras dos carros
que sobem sob o céu azul
sobre nossas cabeças,
elas não têm fim.
Já as crianças que não têm escola
têm seu fim predestinado
e servem de sacos de pancada ao sistema
que responde com violência e paixão
exercício para o impensável.
As cidades estão a postos
e essas crianças também.
O dia a dia revela o grão
o pão
e o chão
de quem dorme na rua e não tem nada disso:
nem grão
nem pão
nem chão.
Os corpos caídos pelas calçadas
não nos pertencem.
Os necessitados
mortos-vivos
são os outros.
As imagens retiradas da cidade são um veredicto
de recortes que nos representam,
embora gostaríamos que fosse diferente.
Os monstros
os deuses
os transeuntes.
Onde mesmo está a nossa preocupação?
Dentro e fora da imagem vazada
é a cidade quem vê.
A cidade tem alma e sussurra baixinho:
ou você percebe e me decifra
ou te devoro
em trinta
segundos.

Foto: Talita Gantus