Talita Gantus
Aborto

Foto: Helena Zelic
Uma mancha de sangue lhe enfeita entre as pernas Um órgão oprimido e subnegado Um gozo contido lhe julga o prazer Um gemido mordido lhe foge da boca Um grito engasgado de dor e sofrer.
Uma semente plantada lhe condena ao dever Vagos sonhos insinuam esperança Ela, mulher, em prantos já ouve O choro daquele à quem hoje nega O doce e amargo direito de nascer.
Deitada no leito frio sangrava Nascera mulher Não podia escolher
Agora era morta O sangue esvaía.
E atrás da hipocrisia A moral sobressaía E pra sua vizinha Que julgava Mas seguia Aquele feto valia.
Só não valia ela E a vida dela se ia Quem condenava, seguia E agora, ela sumia Era morta Era número.